Algumas nuvens escondem um perigo invisível: forças capazes de lançar um piloto a quase 10 mil metros de altitude. Embora pareça coisa de filme, esse fenômeno é real — e pode ser mortal. Chamado internacionalmente de cloud suck, ele ocorre quando correntes ascendentes extremamente fortes sugam pilotos de parapente ou asa-delta para dentro de nuvens de tempestade, elevando-os a altitudes onde o oxigênio rareia e o frio congela até os instrumentos. Além disso, os acidentes causados por Cloud Suck vêm chamando atenção justamente por envolverem situações extremas e, muitas vezes, fatais.
Casos como o da alemã Ewa Wiśnierska e do chinês Peng Yujiang escancaram os riscos dessa força invisível da atmosfera — que já causou desmaios, congelamento e até mortes. Mas nem todos os vídeos que viralizam sobre esse fenômeno são verdadeiros: a manipulação digital, especialmente com inteligência artificial, já criou cenas impressionantes e falsas.
Neste artigo, você vai entender como funcionam essas correntes perigosas, o que há de verdadeiro nos relatos mais famosos e separar ciência de sensacionalismo.
O que é o fenômeno “cloud suck”?
O termo cloud suck descreve um fenômeno atmosférico em que uma corrente de ar ascendente excepcionalmente forte puxa objetos — especialmente praticantes de esportes aéreos — para dentro de nuvens densas e em rápida formação vertical, como, por exemplo, as cumulonimbus.
Essa corrente se forma quando o ar quente sobe com grande intensidade e, ao mesmo tempo, a instabilidade da atmosfera alimenta esse movimento. Como resultado, cria-se uma espécie de “túnel de sucção invisível”. Quando um piloto entra nessa área, portanto, a corrente pode arrastá-lo para altitudes muito acima do planejado, dificultando qualquer tentativa de controle para descer.
Além do perigo físico, o fenômeno provoca hipóxia (falta de oxigênio), hipotermia (congelamento) e desorientação, pois a visibilidade tende a desaparecer completamente dentro da nuvem.
Como o cloud suck ameaça pilotos

Formação de nuvens cumulonimbus em ascensão
Esse fenomeno pode surpreender até mesmo pilotos experientes. Em condições normais, os parapentes e asas-delta são pilotados em altitudes entre 1.000 e 3.000 metros. Mas o cloud suck pode levar um piloto a mais de 9.000 metros de altitude, região onde normalmente voam aviões comerciais.
Nessa faixa, o corpo humano sofre:
Falta de oxigênio
Temperaturas abaixo de -40 °C
Risco de perder a consciência em minutos
Além disso, o controle do equipamento se torna quase impossível. A força da corrente ascendente é maior do que qualquer manobra que o piloto possa tentar para escapar.
Acidentes causados por Cloud Suck: casos reais de pilotos sugados por nuvens
Embora esse fenômeno ainda seja pouco conhecido do público geral, pilotos ao redor do mundo já enfrentaram seus efeitos de forma trágica e impressionante. Os acidentes causados por Cloud Suck ocorrem quando correntes ascendentes extremamente potentes arrastam esportistas para altitudes perigosas, em meio a nuvens carregadas, frio intenso e ausência de oxigênio. Abaixo, você confere os relatos mais marcantes de sobrevivência — e de perda — associados a esse fenômeno.
Ewa Wiśnierska — Alemanha, 2007

Cena do documentário australiano de 2010 que recria o voo de Ewa Wiśnierska. Crédito: Eden HD / YouTube
Durante um treino para o Campeonato Mundial de Parapente na Austrália, uma nuvem arrastou a alemã Ewa Wiśnierska até 9.946 metros de altitude. Ela perdeu a consciência por falta de oxigênio, sofreu congelamento, mas conseguiu acordar em pleno voo e pousar com vida.
He Zhongpin — China, 2007
A mesma formação de nuvens também arrastou um piloto chinês, companheiro de Ewa, mas um raio acabou por atingi-lo. Encontraram seu corpo a quilômetros do local de decolagem.
Paolo Antoniazzi — Itália, 2014

Imagem ilustrativa do Monte Bernadia, local do acidente de Paolo Antoniazzi
Uma tempestade na Itália sugou o general italiano aposentado enquanto ele praticava parapente. Ele chegou a cerca de 9.300 metros, mas não sobreviveu.
Ben Lewis — Canadá, 2024
Durante um voo nos Himalaias, o piloto canadense chegou a 7.374 metros de altitude. Desmaiou no ar, sofreu ferimentos graves e caiu em uma árvore, onde foi resgatado.
Peng Yujiang — China, 2025

Frame do vídeo possivelmente gerado por IA de Peng Yujiang coberto de gelo em voo extremo
Recentemente, o piloto chinês foi supostamente puxado por uma corrente ascendente a cerca de 8.598 metros. Ele sobreviveu, mas parte das imagens que circularam do evento foram posteriormente identificadas como geradas por inteligência artificial.
Quando a nuvem é fake: vídeos manipulados e desinformação
Com a popularização da IA generativa, vídeos falsos sobre fenômenos extremos começaram a circular com facilidade. No caso de Peng Yujiang, as imagens o mostravam envolto por gelo, sendo puxado verticalmente em meio a nuvens densas — mas algumas partes foram reconhecidas como geradas artificialmente.
A dúvida sobre a autenticidade não invalida o fenômeno, mas mostra como o sensacionalismo digital pode ofuscar o debate sério sobre riscos reais. Por isso, é importante checar fontes e entender que, em meio à estética do perigo, muitas vezes há manipulação.
O que podemos aprender com esses casos
Em primeiro lugar, o cloud suck é real, perigoso e subestimado.
Além disso, a natureza tem forças que desafiam até os mais experientes.
Por fim, a manipulação digital pode transformar relatos reais em desinformação.
Entender o fenômeno e respeitar os limites do voo livre não é apenas uma medida de segurança — é também um ato de responsabilidade.
Afinal, isso ajuda a preservar vidas e, ao mesmo tempo, reforça o senso crítico em uma era marcada por imagens perfeitas e realidades distorcidas.
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Assim, mais pessoas terão acesso ao conhecimento por trás das nuvens que, silenciosamente, desafiam a gravidade e a lógica.
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Fontes e referências dos casos citados
Ewa Wiśnierska
“Woman Survived Getting Sucked Into Storm While Paragliding”, People Magazine.
https://people.com/woman-survived-getting-sucked-into-storm-while-paragliding-exclusive-8699609He Zhongpin
“Lightning killed paraglider”, The Sydney Morning Herald, 2007.
https://www.smh.com.au/national/lightning-killed-paraglider-20070221-gdpifu.htmlPaolo Antoniazzi
“Ore di apprensione per le sorti di Paolo Antoniazzi”, Il Gazzettino, 2014.
https://www.ilgazzettino.it/pay/nazionale_pay/ore_di_apprensione_le_sorti_di_paolo_antoniazzi_65_anni_di_castagnole_di_paese-496650.htmlBen Lewis
“Paraglider pilot swept to 7,300m in Himalayan storm – and survives”, Cross Country Magazine (XCMag), 2024.
https://xcmag.com/news/paraglider-pilot-swept-to-7300m-in-himalayan-storm-and-survives/Peng Yujiang
“Doubts raised over Chinese paraglider’s claim of accidental 8,000-metre flight”, The Guardian, 2025.
https://www.theguardian.com/world/2025/may/29/chinese-paraglider-peng-yujiang-survives-8000-metre-high-flight