Será que o universo já existiu antes do Big Bang?

E mais: será que ele já colapsou, morreu… e então renasceu? Essas perguntas parecem saídas de ficção científica. No entanto, estão no centro de uma teoria real chamada Big Bounce. Em vez de imaginar o início de tudo como uma explosão surgida do nada, essa hipótese propõe um universo cíclico. Um cosmos que passa por fases sucessivas de expansão e contração.

Nesse modelo, o Big Bang não seria o começo absoluto. Ele seria um salto gravitacional que ocorre quando o universo anterior atinge seu limite máximo de compressão. Um “recomeço” — como o bater de um coração cósmico.

Nas próximas seções, você vai entender o que é o Big Bounce, por que ele surgiu como alternativa ao Big Bang e como essa ideia pode nos levar a enxergar o universo de forma diferente: não como uma linha com ponto final, mas como um ciclo sem fim.

2. A ideia central do Big Bounce

BIG_BOUNCE_EXPANSAO_COLAPSO_reduced-1024x683 O que é o Big Bounce? A teoria do universo que nunca para de recomeçar

No modelo mais conhecido da cosmologia, o universo começou com o Big Bang — um ponto infinitamente denso que se expandiu e deu origem a tudo.
Mas o Big Bounce propõe outra narrativa: o universo não começou ali. Ele veio de uma contração anterior — um universo antigo que colapsou até um ponto máximo de compressão, e então deu lugar a uma nova fase de expansão.

Esse processo seria como uma respiração cósmica: o universo se expande, desacelera, colapsa e depois “salta” novamente para um novo ciclo. Cada salto seria o que chamamos de Big Bounce — uma transição entre um universo antigo e um novo.

A principal diferença está na ideia de singularidade.
No Big Bang tradicional, o universo teria começado de um ponto com densidade infinita. Já o Big Bounce propõe que a matéria atinge um limite de compressão, mas não chega a uma singularidade — em vez disso, ela “reage” com uma força gravitacional reversa e inicia uma nova expansão.

Esse ciclo pode ser único ou infinito, dependendo do modelo. Mas em todos os casos, o Big Bounce muda radicalmente a forma como pensamos o tempo e a origem do universo:
não houve um começo, apenas um recomeço.

3. Como essa teoria surgiu

A ideia de que o universo poderia seguir ciclos de expansão e contração não é nova.
Na década de 1930, o físico Richard Tolman propôs um modelo cosmológico cíclico, em que o universo alternava entre fases de crescimento e colapso. Na época, essa proposta competia com outras hipóteses sobre a origem do cosmos, mas foi perdendo espaço com a consolidação do modelo do Big Bang.

Décadas depois, a ideia foi retomada com novas bases. Um dos nomes mais associados ao Big Bounce moderno é o do físico teórico Nikodem Poplawski, que utilizou conceitos de gravidade torsional para mostrar que, em vez de colapsar para uma singularidade, a matéria em um buraco negro poderia atingir uma densidade máxima e depois se expandir — dando origem a um novo universo.

Outros modelos surgiram desde então, alguns baseados na física quântica, outros em variações da teoria das cordas. Mas todos compartilham uma mesma premissa:
o universo que conhecemos pode ser apenas uma fase entre muitas.

4. Diferença entre Big Bang e Big Bounce

BigBouncexBigBang_reduced-1024x683 O que é o Big Bounce? A teoria do universo que nunca para de recomeçar

À primeira vista, Big Bang e Big Bounce podem parecer apenas nomes diferentes para a mesma ideia — mas, na prática, eles representam duas visões muito distintas sobre a origem do universo.

Big Bang

Segundo o modelo tradicional, tudo começou com uma singularidade — um ponto de densidade infinita e volume zero, do qual o universo explodiu para se tornar o que é hoje.
Essa visão implica que o tempo, o espaço e as leis da física surgiram juntos, sem nada anterior a isso.

É uma teoria poderosa e bem aceita, mas ela tem um problema:
a singularidade não pode ser descrita pelas leis conhecidas da física. Ela representa um “fim da matemática” — um ponto onde o modelo quebra.

Big Bounce

Já o Big Bounce evita a singularidade.
Ele propõe que o universo não surgiu do nada, mas sim de uma fase anterior de contração. Ao atingir um limite de compressão, em vez de colapsar, ele saltou para uma nova fase de expansão.

Isso significa que o tempo não começou com o nosso universo — ele já existia antes, talvez em outros ciclos.
E mais: as leis da física podem ter sobrevivido ao colapso, ou até ter mudado entre um universo e outro.

5. O Big Bounce e os buracos negros

Uma das versões mais intrigantes do Big Bounce vem do físico teórico Nikodem Poplawski, que uniu dois conceitos poderosos: os buracos negros e o universo cíclico.

Segundo ele, quando uma estrela massiva colapsa e se transforma em um buraco negro, a matéria não desaparece em uma singularidade, como prevê a teoria tradicional. Em vez disso, ela atinge um limite extremo de densidade — e nesse ponto, em vez de colapsar completamente, salta. Esse salto seria o nascimento de um novo universo — e o que observamos como Big Bang seria, na verdade, um Big Bounce originado dentro de um buraco negro.

BigBounce_O_Colapso_de_Um_Buraco_Negro_Pode_Dar_Vida_A_Outro_reduced-1024x683 O que é o Big Bounce? A teoria do universo que nunca para de recomeçar

Representação visual do ciclo proposto por Nikodem Poplawski, no qual o colapso de um buraco negro pode dar origem a um novo universo em expansão — o Big Bounce.

Esse modelo, conhecido como cosmologia de Schwarzschild, sugere que cada buraco negro pode ser o portal para um universo próprio. E o nosso universo? Poderia ser o interior de um desses portais, criado a partir do colapso de outro.

Se essa teoria estiver certa, então o universo que conhecemos não seria único, nem o primeiro — mas parte de uma cadeia infinita de universos que nascem, colapsam e recomeçam.

[Essa hipótese está diretamente ligada à ideia explorada em nosso post principal:
O universo dentro de um buraco negro: uma teoria que desafia a realidade]

6. Limitações e desafios

Apesar de ser uma das teorias mais elegantes sobre a origem do universo, o Big Bounce ainda é altamente especulativo. Ele resolve alguns problemas deixados pelo modelo do Big Bang, como a questão da singularidade, mas levanta outros que ainda não têm resposta.

Falta de evidência direta

Uma das maiores dificuldades está na verificação empírica.
Como o Big Bounce envolve eventos que teriam ocorrido antes do início do nosso universo observável, não há sinais diretos acessíveis atualmente que confirmem a existência de um ciclo anterior.

Alguns cosmólogos acreditam que certos padrões na radiação cósmica de fundo (como anomalias ou zonas de menor intensidade) poderiam ser indícios de um universo anterior, mas até agora essas hipóteses não passaram pelo crivo científico com consenso.

Depende de teorias ainda em desenvolvimento

A viabilidade do Big Bounce depende de avanços em campos como a gravidade quântica, uma área da física que ainda está em construção e sem um modelo unificado.
Ou seja: a teoria é possível no papel, mas ainda falta um arcabouço matemático amplamente aceito para sustentá-la com robustez.

7. Conclusão

O universo pode não ter começado com um estouro repentino, mas com um salto silencioso após um colapso anterior.
Essa é a proposta do Big Bounce: uma visão em que o cosmos não nasce — ele recomeça.

A teoria ainda está longe de ser comprovada, mas sua beleza está na possibilidade de enxergar o universo como algo que pulsa, que respira, alternando entre expansão e recolhimento, entre fim e renascimento.
Uma espécie de batimento cardíaco cósmico que ecoa por eras que talvez nunca venhamos a medir.

E se for verdade?
Se estivermos vivendo não no primeiro universo, mas em um entre muitos — parte de uma cadeia eterna de recomeços?

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