Na manhã de 30 de junho de 1908, uma luz intensa cortou o céu da Sibéria como um relâmpago silencioso. Segundos depois, o céu explodiu. Esse evento, que mais tarde ficaria conhecido como a Explosão de Tunguska, daria início a um dos maiores enigmas científicos do século XX.

Como resultado, uma onda de choque devastadora percorreu mais de dois mil quilômetros quadrados de floresta, derrubando milhões de árvores como se fossem palitos. Aliás, a detonação foi ouvida a mais de mil quilômetros de distância. No epicentro, ninguém sobreviveu para contar. Mesmo assim, as consequências ecoaram até Londres.

No entanto, não houve guerra. Nenhum vulcão entrou em erupção. Nenhum impacto no solo.
Apenas um clarão no céu — e um enigma que desafiaria a ciência por mais de um século.

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O que foi aquilo?

A Explosão de Tunguska é considerada o maior impacto cósmico registrado na história moderna — e, ao mesmo tempo, o mais intrigante.

Mas afinal, o que teria causado um clarão tão intenso, ondas sísmicas detectadas na Europa e uma destruição comparável à de uma bomba nuclear, sem deixar qualquer cratera?
Seria um asteroide? Um cometa? Ou, por outro lado, algo que ainda não compreendemos totalmente?

Mesmo depois de mais de cem anos, a resposta ainda carrega elementos de mistério.


A manhã em que o céu explodiu

Três pastores Evenki observam um meteoro em chamas cruzando o céu da Sibéria ao amanhecer, com renas ao fundo. Representação do momento anterior à explosão de Tunguska.

Pastores Evenki observam o meteoro antes da explosão de Tunguska. Imagem ilustrativa

Eram 07h17, horário local, quando pastores Evenki, habitantes nômades da região, viram uma bola de fogo cruzando o céu. Em segundos, um clarão branco iluminou tudo ao redor, seguido por uma sequência de estrondos ensurdecedores.

As árvores próximas ao epicentro foram carbonizadas de pé. Por outro lado, as mais distantes caíram em padrão radial, todas apontando para um centro invisível. Além disso, a onda de choque quebrou janelas a 65 km de distância. E o calor foi tão intenso que pessoas relataram sentir queimaduras a dezenas de quilômetros.

Em cidades como Londres e São Petersburgo, o céu noturno brilhou com uma luz azulada nas noites seguintes. Era possível ler jornal à meia-noite sem qualquer lâmpada.


A busca por respostas

Fotografia histórica de 1929 mostrando árvores destruídas e queimadas na região da explosão de Tunguska. Imagem original da expedição de Leonid Kulik.

Fotografia real tirada em 1929 mostra árvores derrubadas e queimadas pela explosão de Tunguska, que devastou uma área de mais de 2.000 km² na Sibéria. Créditos: Leonid Kulik / Domínio público via Wikimedia Commons

Por quase vinte anos, ninguém investigou o local. A região era isolada, pantanosa e pouco acessível. Somente em 1927, o cientista soviético Leonid Kulik liderou uma expedição à área.

Ele esperava encontrar uma cratera. Mas não havia nenhuma.

Em vez disso, encontrou milhares de troncos queimados, dispostos como raios ao redor de um ponto central — um epicentro onde as árvores continuavam de pé, mas sem galhos ou folhas, como postes chamuscados.

Kulik concluiu que a explosão viera do céu. A busca por fragmentos do corpo celeste começou, mas sem sucesso. Nada de asteroide. Nenhum pedaço de cometa.


O que a ciência descobriu

Décadas depois, as hipóteses se refinaram. Análises de solo e resina de árvores revelaram partículas de níquel e irídio — metais raros na Terra, comuns em asteroides. O padrão da destruição, a energia liberada (estimada em até 15 megatons) e a ausência de cratera apontam para uma explosão aérea: um airburst.

Atualmente, a teoria mais aceita é a de que a Explosão de Tunguska foi causada por um asteroide pedregoso, com cerca de 50 a 60 metros de diâmetro, que entrou na atmosfera a mais de 90 mil km/h e se desintegrou entre 5 e 10 km de altitude.

Outros defendem que tenha sido um fragmento de cometa — composto de gelo, o que explicaria a falta de destroços sólidos. Mas a maior parte dos cientistas prefere a explicação do asteroide.


Por que Tunguska ainda importa

Asteroide em chamas se aproxima da Terra, com a Europa em destaque e o Sol ao fundo. Ilustração da ameaça global de impactos como o de Tunguska.

Asteroide se aproxima da Terra em uma simulação do cenário de Tunguska. Imagem ilustrativa

O evento de Tunguska foi um alerta silencioso. Afinal, se tivesse ocorrido quatro horas depois, a rotação da Terra teria colocado a cidade de São Petersburgo no ponto de impacto.

Diante dessa ameaça invisível, cientistas passaram a mapear objetos próximos à Terra. De fato, a explosão de Tunguska inspirou projetos como o Planetary Defense Coordination Office, da NASA, e o recente teste da missão DART, que conseguiu desviar um asteroide em 2022.

Desde 2016, o dia 30 de junho — aniversário do evento — passou a ser o Dia Internacional dos Asteroides, reconhecido pela ONU.


Um lembrete do céu

A explosão de Tunguska segue sem testemunhas diretas, sem imagens e sem um fragmento claro do que caiu do céu.
Mesmo assim, ela continua ali, impressa no chão da Sibéria, onde milhões de árvores deitadas contam, até hoje, uma história sem voz.

Se um corpo celeste tão pequeno pôde causar tamanha devastação… estamos prontos para o próximo?

Referências

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