Você já sentiu fome pouco depois de comer, como se aquela refeição tivesse sido apagada da sua mente?
A ciência começa a explicar por quê: comer demais pode ser um problema de memória.
Pesquisadores descobriram que o cérebro registra cada refeição por meio de traços específicos chamados engramas — marcas que dizem internamente “você já comeu, pode parar”. Quando essa memória falha, seja por distração, estresse ou outro motivo, o corpo não reconhece o que acabou de acontecer.
O resultado? Fome aparente, repetição da refeição e exageros que nem sempre têm relação com a necessidade real.
Neste post, você vai entender o que são os engramas de refeição, como eles afetam o apetite e o que pode estar fazendo seu cérebro pedir comida… mesmo sem precisar.
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O que são os engramas de refeição?
Engramas são registros físicos que o cérebro forma a partir de uma experiência vivida. Na prática, são como “marcas neurais” que permitem lembrar de um momento, de um lugar — ou, no caso, de uma refeição.
Durante uma refeição, especialmente nos pequenos intervalos entre as mordidas, o cérebro registra o que está sendo comido, o ambiente, o tempo e até o estado emocional. Dessa forma, esses registros formam os chamados engramas de refeição.
Eles são criados em uma área chamada hipocampo ventral, responsável por memórias contextuais, e ajudam a sinalizar ao corpo que a necessidade de comer já foi atendida.
Como explica o professor Scott Kanoski, da Universidade do Sul da Califórnia:
“Um engrama é a marca física que uma memória deixa no cérebro.”
Segundo ele, os engramas de refeição funcionam como “bancos de dados biológicos sofisticados”, que armazenam múltiplos tipos de informação — como onde você estava comendo e o horário em que a refeição aconteceu.
Fonte: USC Today
A descoberta científica
Pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia observaram em laboratório que, durante as refeições, os ratos criavam engramas específicos. Quando os cientistas danificaram esses neurônios, os animais comeram mais e esqueceram onde haviam se alimentado.
Os pesquisadores também descobriram que os engramas de refeição se comunicam diretamente com o hipotálamo lateral, a região do cérebro que regula a fome e a saciedade. Ao interromper essa comunicação, eles fizeram os ratos comerem compulsivamente, como se nunca tivessem iniciado uma refeição.
Embora o experimento tenha ocorrido com roedores, os cientistas acreditam que esse mecanismo provavelmente funciona de forma semelhante em humanos.
Comer distraído pode atrapalhar essa memória
Uma das conclusões mais importantes do estudo é que comer distraído enfraquece a formação desses engramas.
Ou seja: quando você almoça olhando o celular, assiste a uma série enquanto janta, ou nem presta atenção ao que está comendo, o cérebro não registra adequadamente a refeição. E sem esse registro, ele pode não sinalizar que você está satisfeito — ou sequer que já comeu.
Esse “bug” pode parecer pequeno, mas se repetir com frequência, contribui para hábitos alimentares desequilibrados, ganho de peso e até compulsão.
Como usar essa descoberta a seu favor
A solução não está apenas em mudar o que você come, mas em como você come.
Veja algumas estratégias baseadas nesse mecanismo cerebral:
Evite comer distraído: mesmo que seja só por 10 minutos, concentre-se na refeição.
Faça pequenas pausas entre mordidas: são nesses momentos que os engramas se formam.
Observe o ambiente e os sabores: ativar sua atenção sensorial ajuda a consolidar a memória do momento.
Relembre mentalmente o que comeu ao longo do dia: isso reforça a presença da memória alimentar.
Essas pequenas atitudes ajudam o cérebro a reconhecer que você se alimentou — e isso pode diminuir aquela fome que surge “do nada”.
Conclusão
Enganados por um cérebro distraído, podemos acabar comendo mais do que o necessário — não por fome, mas por falta de memória.
Ao entender que comer demais pode ser um problema de memória, somos convidados a transformar a alimentação em algo mais consciente, sensível e presente. Não se trata de culpa, mas de percepção.
Talvez, da próxima vez que a fome chegar cedo demais, a pergunta não seja “o que vou comer agora?”, mas sim:
“Será que meu cérebro se lembra do que eu já comi?”
Fonte
University of Southern California. (2025, June 11). Researchers uncover memory neurons that tell us when to stop eating. ScienceDaily. Retrieved from https://www.sciencedaily.com/releases/2025/06/250611084115.htm
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