Sempre soubemos que os dois lados da Lua são diferentes. Basta observar o lado visível da Terra — marcado por vastas planícies escuras — e compará-lo com o lado oculto, mais acidentado e brilhante. Mas agora, essa diferença entre os lados da Lua deixa de ser apenas uma curiosidade visual para se tornar uma chave científica poderosa, revelando como a Lua se formou, como evoluiu e por que ainda hoje guarda marcas profundas de sua história interna.
Uma descoberta feita sem tocar o solo lunar
Pesquisadores da NASA analisaram variações minúsculas na gravidade lunar. Os dados foram coletados pelas espaçonaves Ebb e Flow, da missão GRAIL. Embora não tenham pousado na superfície, elas conseguiram revelar como a Lua se deforma ao orbitar a Terra. Essa deformação — chamada deformação por maré — acontece por causa da força gravitacional do nosso planeta.
A intensidade dessa flexão depende da estrutura interna da Lua. Foi esse detalhe que permitiu aos cientistas criar o mapa gravitacional mais preciso já feito do satélite.
O lado oculto revela menos movimento
O que os dados revelaram surpreendeu a equipe: o lado da Lua voltado para a Terra se deforma mais do que o lado oposto. Isso indica que o interior da Lua é assimétrico.

Comparação entre o lado visível da Lua (à esquerda) e o lado oculto (à direita), reunida a partir de imagens captadas pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter. Crédito: NASA/JPL-Caltech
Segundo os cientistas, isso ocorre porque o lado visível tem uma região do manto mais quente. Essa área concentra elementos radioativos que, bilhões de anos atrás, aqueceram o interior da Lua. Isso gerou vulcanismo intenso — o mesmo que formou os mares lunares (mare), visíveis como manchas escuras.
Já o lado oculto não passou por esse mesmo processo. Por isso, é mais frio e menos flexível.
Por que essa diferença importa?
Compreender essa diferença entre os lados da Lua ajuda a responder uma dúvida antiga: por que o satélite é tão assimétrico? A resposta está em sua estrutura profunda. Ao longo dos bilhões de anos, o calor moldou o lado visível, enquanto o oculto permaneceu praticamente intacto.
Além disso, a descoberta também mostra que é possível explorar o interior de corpos celestes sem aterrissar neles. Basta acompanhar com precisão a órbita de sondas e medir variações gravitacionais. Dessa forma, esse método abre novas possibilidades para estudar planetas e luas distantes, com segurança e eficiência.
Um novo capítulo na história lunar
A diferença entre os lados da Lua deixa de ser apenas um detalhe visual. Na realidade, ela se transforma em um registro profundo da história geológica lunar. De acordo com as análises recentes, agora sabemos que o lado visível teve uma história muito mais quente, mais ativa — e o mais impressionante é que isso ainda se reflete na forma como a Lua se comporta hoje.
Além disso, essa revelação também mostra a força dos métodos não invasivos. Graças à análise gravitacional, conseguimos enxergar o que está oculto sob a superfície. Logo, olhar para a Lua passa a ser também um exercício de descoberta: encontrar vestígios de um passado incandescente, preservado sob sua superfície silenciosa.
Fontes
NASA/JPL. “NASA Studies Reveal Hidden Secrets About Interiors of Moon, Vesta”, publicado em 14 de maio de 2025.