O que sustenta uma vida quando o corpo falha?
Poucas situações desafiam tanto a noção de continuidade quanto a de permanecer lúcido dentro de um corpo que se apaga aos poucos. Quando andar, falar ou respirar deixam de ser funções naturais, o que ainda mantém alguém presente no mundo? Por esse motivo, o caso de Stephen Hawking impõe essa pergunta com força incomum — e nos leva a refletir como ele viveu tanto tempo com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), uma doença neurodegenerativa grave que costuma tirar vidas em poucos anos.
Não se trata aqui de uma análise médica. O que se segue é uma tentativa de compreender, sob uma lente mais humana, o que pode ter sustentado aquela vida por tanto tempo. Porque Hawking não apenas sobreviveu: ele continuou pensando, escrevendo, ensinando. Continuou sendo. E talvez tenha sido justamente isso — essa escolha de permanecer ativo por dentro — que fez com que o resto seguisse funcionando, mesmo quando tudo parecia falhar.
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O impacto de uma mente em movimento
Hawking nunca parou de produzir. Continuou desenvolvendo teorias, escrevendo livros, dando palestras e colaborando com outros cientistas. Mesmo usando um sintetizador de voz controlado por um músculo da bochecha, ele se manteve intelectualmente ativo até o fim da vida.
Por isso, essa dedicação à atividade intelectual constante pode ter sido um dos principais elementos que sustentaram sua vida. O cérebro, mesmo isolado do corpo, seguia engajado em algo que fazia sentido para ele. Ter um propósito claro, com metas concretas e a sensação de que ainda havia muito a ser feito, logo, pode ter tido um impacto real em sua saúde.
A ausência de fé como fator de urgência
Hawking era ateu. Ele não acreditava em vida após a morte. Para ele, a existência terminava com a morte física. Essa visão pode ter reforçado ainda mais sua motivação para continuar vivendo e produzindo enquanto fosse possível. A ideia de que essa era a única chance que teria pode ter alimentado seu desejo de aproveitar cada momento com significado.
Em vez de buscar consolo na ideia de transcendência, Hawking concentrava seus esforços em ampliar a compreensão humana do universo — aqui e agora. Além disso, essa postura racional, combinada com uma missão científica clara, pode ter fortalecido sua resistência frente à deterioração física.
E o papel da fé em outros contextos?
Isso não significa que a fé religiosa torne as pessoas mais propensas a desistir. Em muitos casos, a fé oferece força emocional, resiliência e esperança. Mas também pode permitir uma aceitação mais tranquila da morte, especialmente quando ela é vista como uma passagem, e não como um fim absoluto.
Pessoas com crenças espirituais muitas vezes enfrentam doenças graves com serenidade, confiando que há algo além da experiência física. Essa postura não é menos valiosa — apenas aponta para uma motivação diferente. Em vez de resistência constante, há entrega. Em vez de urgência, há confiança.
O que realmente sustenta uma vida?
O que sustentou Hawking foi, talvez, uma combinação de fatores: mente ativa, propósito definido, ausência de crenças que aliviassem o peso da finitude. Mas essa equação não se aplica a todos.
De fato, cada pessoa encontra sustentação de formas distintas — na fé, na razão, em vínculos afetivos, no senso de missão ou em algo mais íntimo e difícil de nomear. O ponto é que, quando o corpo falha, o que permanece em pé diz muito sobre quem somos e no que acreditamos.
Refletir sobre como Stephen Hawking viveu tanto tempo com ELA não nos dá uma resposta única, mas nos obriga a encarar a própria pergunta:
o que, em você, continuaria de pé quando o resto começasse a ruir?
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