Entre as inúmeras produções de ficção científica que exploram mundos alienígenas, poucas se dedicam a construir um ecossistema tão complexo e fascinante quanto essa. Estou falando de Planeta dos Abutres (Scavengers Reign), que é uma das produções de ficção mais criativas dos últimos anos, apresentando um planeta vivo, cheio de detalhes e peculiaridades, onde a sobrevivência exige adaptação, e não dominação. Com inspirações visuais que remetem ao trabalho do ilustrador Moebius e elementos de biologia especulativa, a série entrega uma experiência sensorial e narrativa digna de nota.

A Origem e Expansão do Universo

Planeta dos Abutres nasceu a partir do curta Scavengers (2016), criado por Joe Bennett e Charles Huettner. O curta explorava a história de dois astronautas que tentavam sobreviver em um planeta hostil, utilizando os recursos naturais de forma engenhosa. Os criadores expandiram a premissa na série e transformaram esses astronautas nos personagens Ursula e Sam. Eles já conhecem parte dos segredos do planeta Vesta, mas ainda enfrentam desafios inesperados em sua tentativa de escapar.

A produção enfrentou diversos desafios internos na HBO, sobrevivendo à reestruturação da plataforma até finalmente estrear em outubro de 2023. Infelizmente, a série recebeu pouca atenção do grande público, apesar do forte apelo entre os fãs de ficção científica.

A Trama e os Núcleos Narrativos

A série segue um grupo de sobreviventes da nave Demeter, que sofre um acidente e cai no planeta Vesta. A narrativa se divide em três principais núcleos:

  • Ursula e Sam: Exploradores que tentam trazer a nave de volta ao planeta para fugir. Mesmo com seu conhecimento prévio sobre Vesta, o ecossistema alienígena desse planeta constantemente os surpreendem.
  • Azi e Levi: Azi, outra sobrevivente, forma um vínculo com Levi, uma robô que começa a sofrer mutações após ser contaminada por um fungo local, tornando-se uma entidade cada vez mais alienígena. Sim, um robô alienígena.
  • Kamen: Um homem isolado dos demais sobreviventes, consumido pela culpa e assombrado por memórias. Ele entra em contato com uma criatura do planeta que o manipula através dessas lembranças.

Apesar de o foco estar nos personagens humanos, é Vesta quem realmente protagoniza a série. O planeta não é apenas um cenário, mas sim um ecossistema vivo, interconectado e, possivelmente, consciente. Sua fauna e flora apresentam relações simbóticas complexas, onde tudo parece fazer parte de um organismo maior. A série não explica diretamente como esse mundo funciona; em vez disso, deixa o espectador preencher as lacunas observando a interação dos personagens com o ambiente.

Um Final Que Pede Continuidade

Embora a série tenha um desfecho relativamente fechado, alguns elementos no último episódio dão a impressão de que a história ainda precisa de uma continuação. Vários personagens conseguem encontrar um novo equilíbrio em Vesta, mas não conseguem sair do planeta, sendo forçados a continuar suas vidas ali. Enquanto isso, um novo grupo de personagens misteriosos aparece nos momentos finais, adicionando um elemento de suspense e sugerindo que a história poderia ir muito além do que foi mostrado.

A forma como a série conclui não apenas reforça o mistério do planeta, mas também deixa a sensação de que há muito mais a ser explorado em uma segunda temporada. No entanto, a produção de uma nova temporada vem enfrentando altos e baixos: inicialmente, a HBO abandonou a série, levando a Netflix a negociar a criação de uma segunda temporada. Mas, por fim, Joe Bennett informou aos fãs que a Netflix também desistiu do projeto com a seguinte declaração que traz esperanças de que esse universo ainda possa ser revisitado no futuro:

oculto

“No momento, Planeta dos Abutres não foi renovada para uma 2ª temporada. Eu gostaria de informar a todos diretamente, porque eu amo nossos fãs, e eles têm sido campeões para a série, e não quero deixar ninguém esperando. Nós lutamos com dentes e unhas por cada processo dessa série, desde 2016, com o curta-metragem e depois com a série. Esse não é o fim, ainda há mais histórias para se contar e estamos prontos para fazer um segundo ano. Nós produzimos um pequeno teaser para o que seria o segundo ano. Obrigado a todos que assistiram e apoiaram a série.”

– Joe Bennett

Conclusão

Planeta dos Abutres é um raro exemplo de ficção científica que realmente mergulha na criação de um mundo alienígena verossímil e intrigante. Ao assistir à série e se deparar com um mundo alienígena totalmente vivo e claramente hostil, dois sentimentos surgem. O primeiro é o fascínio e a empolgação ao conhecer algo totalmente novo. O segundo é o medo e a preocupação com os perigos do desconhecido.

A forma como a série se desenrola e como os personagens se adaptam a condições adversas também impressiona. No fim, eles já pareciam integrados àquele ambiente. Isso é inesperado quando pensamos nas tradicionais narrativas de “viver ou morrer” em universos distintos como esse.

Com uma estética fortemente influenciada por Moebius e um ecossistema complexo baseado em biologia especulativa, a série desafia o espectador a observar e interpretar. Por todos esses motivos, Planeta dos Abutres é uma descoberta imperdível para fãs do gênero.

Disponível na Max

Disponível na Max, Planeta dos Abutres continua sendo uma das produções de ficção mais criativas dos últimos anos. É um convite para aqueles que buscam algo novo e instigante dentro da ficção científica. Resta torcer para que sua história ainda tenha continuidade no futuro.