Em fevereiro de 1959, nove jovens excursionistas da antiga União Soviética montaram acampamento nas encostas geladas dos Montes Urais e, a partir desse momento, nunca mais voltaram. Alguns dias depois, as equipes de resgate iniciaram as buscas e encontraram a barraca rasgada de dentro para fora, abandonada em meio à neve profunda. Em seguida, as equipes de resgate localizaram os corpos a centenas de metros de distância, sem roupas adequadas para o frio extremo. Além disso, alguns apresentavam fraturas internas violentas e sinais perturbadores que, até hoje, geram especulações. Desde então, esse episódio, conhecido como Caso Dyatlov Pass, intriga investigadores há mais de seis décadas e permanece entre os maiores enigmas não resolvidos do século XX, combinando elementos de ciência, teoria militar e mistério psicológico.

Alguns apresentavam fraturas internas violentas e sinais perturbadores que, até hoje, geram especulações. Imagem: dyatlovpass.com — acervo documental do caso.
Neste artigo, vamos reconstituir os fatos com base nas investigações oficiais, além de explorar as teorias mais plausíveis e também as mais bizarras, revelando por que nem mesmo a ciência conseguiu encerrar esse caso. Trata-se de uma tragédia real, mas com elementos tão improváveis que, em muitos momentos, se assemelham à ficção. Afinal, o que teria levado nove pessoas experientes a fugir desesperadas no meio da neve, em direção à morte?
Mais mistérios e curiosidades
O que aconteceu na noite da tragédia?

Registro da barraca e objetos deixados no acampamento Dyatlov, fotografados em 27 de fevereiro de 1959. Imagem: dyatlovpass.com — acervo documental do caso.
Tudo começou com uma expedição de esqui liderada por Igor Dyatlov, composta por estudantes e ex-alunos experientes do Instituto Politécnico dos Urais. O plano era alcançar o monte Otorten, seguindo uma trilha considerada de alta dificuldade. Com esse objetivo, o grupo iniciou a jornada enfrentando temperaturas extremas e terreno desafiador, como parte de uma aventura que deveria durar cerca de duas semanas.
No dia 1º de fevereiro de 1959, o grupo montou sua barraca na encosta do monte Kholat Syakhl, cujo nome, na língua local Mansi, significa “Montanha da Morte”. No entanto, na manhã seguinte, todos já estavam mortos.
O que mais chama a atenção é o comportamento irracional do grupo: eles rasgaram a barraca de dentro para fora, indicando uma fuga desesperada. Eles abandonaram agasalhos, botas e lanternas, e caminharam quase 1,5 km sob temperatura de –25 °C, no escuro e com neve até a cintura. Seis morreram de hipotermia. Os outros três apresentavam fraturas internas graves, como se tivessem sofrido um esmagamento — mas sem sinais de trauma externo compatível.
Como os corpos foram encontrados?

Fotografia original da barraca encontrada rasgada de dentro para fora, registrada pelas equipes de resgate. Imagem: dyatlovpass.com — acervo documental do caso.
As buscas começaram assim que o grupo deixou de fazer contato na data combinada. Em 26 de fevereiro, após dias de incerteza, os socorristas finalmente localizaram a barraca, que estava vazia e parcialmente destruída. Pouco tempo depois, os primeiros corpos foram encontrados nas proximidades de uma fogueira improvisada, sem sapatos ou roupas adequadas para o frio extremo, em posturas que indicavam uma tentativa desesperada de retornar ao acampamento.
Somente em maio os últimos corpos foram encontrados, enterrados sob 4 metros de neve em uma ravina. Alguns vestiam pedaços de roupas dos colegas, indicando possível tentativa de sobrevivência em grupo. Entre eles, estavam Lyudmila Dubinina e Semyon Zolotaryov, com fraturas torácicas tão severas que especialistas compararam à força de uma colisão de carro — e ainda assim, sem hematomas visíveis na pele.
Além disso, roupas de alguns membros apresentavam traços de radiação, o que ampliou o campo para teorias ainda mais estranhas.

Equipes de resgate realizando buscas na encosta da montanha Kholat Syakhl, em fevereiro de 1959. Imagem: dyatlovpass.com — acervo documental do caso.
As teorias mais discutidas
Ao longo das décadas, o Caso Dyatlov Pass gerou inúmeras hipóteses. A seguir, as mais debatidas:
Avalanche de placa tardia

Modelo computacional mostra como uma avalanche de placa poderia ter atingido a barraca sem deixar sinais evidentes. Imagem: Gaume & Puzrin (2021), Communications Earth & Environment – Nature
Um estudo publicado em 2021 por cientistas do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique propôs uma explicação de origem natural. Segundo os pesquisadores, ao cavar a neve para montar a barraca, o grupo teria desestabilizado uma placa de neve, que acabou cedendo várias horas depois. O impacto repentino teria esmagado os que estavam dentro da barraca, enquanto os demais, em pânico, teriam fugido. Essa hipótese ajudaria a explicar os traumas internos severos observados nos corpos, sem ferimentos externos visíveis.
Vento catabático
Outra teoria plausível envolve ventos catabáticos, rajadas extremamente fortes e geladas já registradas na região. Segundo essa hipótese, a força do vento pode ter colapsado a barraca, gerando pânico. Do lado de fora, o frio intenso e o terreno acidentado teriam causado desorientação e, consequentemente, morte por exposição. Uma expedição sueca levantou essa possibilidade em 2019.
Infrassom
Alguns pesquisadores acreditam que ventos fortes na montanha podem ter criado ondas de infrassom, imperceptíveis ao ouvido humano, mas capazes de provocar ansiedade extrema, náusea e pânico descontrolado. Isso explicaria a fuga caótica sem causa física aparente.
Teste militar encoberto
Durante a Guerra Fria, rumores indicavam testes secretos de armas na região. Algumas testemunhas afirmaram ver luzes laranjas no céu na mesma noite. A presença de radiação reforçou essa ideia, embora documentos oficiais nunca tenham confirmado essa informação.
O que dizem as investigações?
A primeira investigação soviética, em 1959, foi encerrada com uma conclusão vaga: “força natural irresistível”. Os arquivos ficaram classificados por décadas.
Somente em 2019 o caso foi oficialmente reaberto. A nova investigação manteve a explicação natural — avalanche seguida de hipotermia — como causa da tragédia. Essa conclusão, no entanto, foi vista com ceticismo por parte da comunidade científica e de familiares das vítimas.
Até hoje, nenhuma versão conseguiu explicar todos os elementos ao mesmo tempo: os ferimentos internos, a fuga descalça, a radiação, a ordem dos acontecimentos e a ausência de sinais de luta.
Por que o caso ainda fascina?
O Caso Dyatlov Pass é um daqueles episódios em que os dados disponíveis não se encaixam em nenhuma narrativa simples. Logo, a combinação de um ambiente extremamente hostil, comportamentos aparentemente ilógicos, elementos físicos anômalos e o sigilo mantido pelas autoridades contribuiu para alimentar décadas de especulação.
Além disso, o caso reúne todos os elementos que costumam compor um grande enigma: jovens em um local remoto, um evento súbito e inexplicável, registros oficiais incompletos e respostas que nunca vieram por completo.
Referências
- Gaume & Puzrin (2021) – Nature: Mechanisms of slab avalanche release
- DyatlovPass.com – Relatórios de autópsia e localização dos corpos
- Wikipedia – Dyatlov Pass incident
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